segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Dono do mundo por uma hora

Jovens cambaleando em cima de uma calçada muito estreita, moradores de rua aninhados em cobertores na frente de grandes lojas fechadas, lixo material e visual, muita gente esquisita, muita fumaça. Isso, provavelmente, é um amanhecer comum na Rua Augusta. Sendo apenas 5:30 de um horário de verão, o céu ainda é noite e a tênue sensação de perigo não se foi. Converso, rio, suspiro de cansaço. É um fato: estou esgotado. Ligeiramente tonto, sem muito ânimo pra rir alto ou falar por muito tempo. Ainda assim, quase chegando em casa, tenho uma conclusão: o quase amanhecer é a hora em que você, acordado, é o dono do mundo.

Essa faixa de horário não é para qualquer um, e é justamente isso que a torna tão especial. Seja o motivo que for, a glória só vem para aqueles que aguentaram a madrugada de algum jeito e, agora, como guerreiros depois da peleja, voltam para suas casas com uma sensação de conquista.

No caminho de volta, é incrível pensar e sentir que, enquanto você vê várias pessoas arrumadas para seus afazeres bem cedo, o seu caminho é outro. É contra fluxo. É um tapa na cara dos afazeres e das regras da sociedade. É um brinde à vida.

Ninguém para te julgar, para falar alto do seu lado, para arruinar a tranquilidade de um ônibus. É um privilégio concedido pela vida para, somente por uma hora, você estar no melhor lugar possível. Poder cantar para si enquanto caminha, se esparramar no transporte que vai usar, sonhar com a cama que vai te abordar com toda sua simpatia.

Sei que muitos julgam algo vadio e sem sentido você madrugar em algum lugar até o nascer do Sol. Mas a verdade é que não existe outra sensação igual à essa. O sentido de tudo isso é você poder voltar pra casa contra tudo e todos. Poder dormir na hora mais gostosa para isso.

Silenciosamente, todos os praticantes dessa maravilha se olham no metrô e, internamente, se cumprimentam e parabenizam com os olhos. Afinal, o mundo é deles.

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