Jovens cambaleando em cima de uma calçada muito estreita, moradores de rua aninhados em cobertores na frente de grandes lojas fechadas, lixo material e visual, muita gente esquisita, muita fumaça. Isso, provavelmente, é um amanhecer comum na Rua Augusta. Sendo apenas 5:30 de um horário de verão, o céu ainda é noite e a tênue sensação de perigo não se foi. Converso, rio, suspiro de cansaço. É um fato: estou esgotado. Ligeiramente tonto, sem muito ânimo pra rir alto ou falar por muito tempo. Ainda assim, quase chegando em casa, tenho uma conclusão: o quase amanhecer é a hora em que você, acordado, é o dono do mundo.
Essa faixa de horário não é para qualquer um, e é justamente isso que a torna tão especial. Seja o motivo que for, a glória só vem para aqueles que aguentaram a madrugada de algum jeito e, agora, como guerreiros depois da peleja, voltam para suas casas com uma sensação de conquista.
No caminho de volta, é incrível pensar e sentir que, enquanto você vê várias pessoas arrumadas para seus afazeres bem cedo, o seu caminho é outro. É contra fluxo. É um tapa na cara dos afazeres e das regras da sociedade. É um brinde à vida.
Ninguém para te julgar, para falar alto do seu lado, para arruinar a tranquilidade de um ônibus. É um privilégio concedido pela vida para, somente por uma hora, você estar no melhor lugar possível. Poder cantar para si enquanto caminha, se esparramar no transporte que vai usar, sonhar com a cama que vai te abordar com toda sua simpatia.
Sei que muitos julgam algo vadio e sem sentido você madrugar em algum lugar até o nascer do Sol. Mas a verdade é que não existe outra sensação igual à essa. O sentido de tudo isso é você poder voltar pra casa contra tudo e todos. Poder dormir na hora mais gostosa para isso.
Silenciosamente, todos os praticantes dessa maravilha se olham no metrô e, internamente, se cumprimentam e parabenizam com os olhos. Afinal, o mundo é deles.
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