quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Época do Jornal Hoje



Se você me perguntar qual o melhor jornal do mundo, direi fácil que é o Jornal Hoje. Se me perguntar os melhores âncoras, com certeza direi o casal-não-casal Evaristo e Sandra. Apesar da forte preferência que tenho pelo falecido porém glorioso Furo MTV, não existe outro telejornal mais incrível e importante para mim do que o Jornal Hoje.

Mais importante do que necessariamente "bom". Não estou aqui julgando roteiro, redação, equipe, repórteres, apresentação, chamada, produção, orçamento. Estou puramente agarrado ao emocional, levando em consideração uma época da minha vida que eu nunca mais pude reviver.

Eu explico. No meu Ensino Fundamental, e no começo do meu Ensino Médio, eu era um garoto que estudava de manhã como vários outros. Era uma escola particular com amigos particulares. Dificilmente eu saía com eles depois das aulas. Era minha época mais "bundão". Mais casa, videogame e nuggets. Consequentemente, eu passava muito mais tempo do que recomendam vendo televisão. Entre vários desenhos, programas do Discovery para o "coxinha intelectual" e tentativas falhas de assistir futebol europeu, eu acabava sempre indo para os canais abertos na parte da tarde. 12:30 até umas 14:00, pra ser exato. E meu deus, como eu sinto falta dessa faixa horária.

Tínhamos os diversos desenhos do Cartoon sendo reprisados porcamente no SBT, com chamadas ridículas. Tinha Chaves (sobre quem eu quase escrevi um texto aqui, mas foi perdido como lágrimas na chuva), Eu/A Patroa/As crianças (economizando vírgulas, gastando com parênteses), Um Maluco no Pedaço. SPTV, quando dava sorte. E claro, o rei daquele horário, o já citado Jornal Hoje.

Minha relação com ele era a mais amigável do mundo. Por várias vezes, após eu voltar de uma dia escolar cheios de "por que X tem que ser merda desse jeito?", eu deitava em minha cama, estrategicamente posicionada na frente da minha própria TV, e deixava que as notícias bobinhas e mais amigáveis do telejornal me fizessem esquecer do entulho que tinha sido as aulas. Isso casava completamente com os problemas que eu tinha na escola, como o fato de eu nunca ter ficado com ninguém, sempre me achar um certo perdedor, não ter amigos com quem comentar sobre meus gostos infantis. O Jornal Hoje resolvia tudo isso, principalmente pela simpatia com que Evaristo e Sandra tratavam o telespectador.

E que dia perfeito era quando o céu resolvia brindar aquela hora gostosa com um dos meus céus preferidos: azul extremamente forte com nuvens enormes e bem definidas. Ali, eu tinha certeza que Deus existia e estava me falando: vai dormir garoto, olha que clima gostoso. E de fato era.



O triste por trás dessa história toda é que eu não tenho mais essa sensação/momento fazem 5 anos. Desde 2010 eu tenho me atarefado durante a tarde e nunca mais tive tempo para aproveitá-la. Foi curso técnico, estágio de telemarketing, emprego em copiadora, emprego em faculdade, emprego público. Nas raras vezes que consegui estar em casa durante a semana, não era mais a mesma coisa. Não tenho mais a TV no quarto, não tenho mais a cama gostosa. Não tenho nem mais sono durante esse tempo, pois se estou em casa à essa hora é porque não fui trabalhar e com certeza fui dormir muito tarde. É um tempo que eu não posso reviver nem se eu quiser. Só posso ter saudades e, quando passo por acaso na frente de uma televisão nesse horário e ouço a música do Jornal Hoje, suspirar.

Hoje, "Jornal Ontem".

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