sexta-feira, 10 de agosto de 2018

One Piece, Ohana e O caralho

Não temos gasolina nos postos, vinagrete no McBrasil e pinturas verdes e amarelas nas ruas. Nossas crianças perderam os desenhos matinais da Globo. Nossos idosos perderam o humor clássico da Zorra Total. O programa "Mulheres" perdeu a Mamma Bruschetta. A Pain perdeu o título de Dota 2. Publicitários quebram a cabeça para definir se o comercial da Dolly para o Dia dos Pais vai ter um orçamento maior do que o preço de um PS3 usado, sem controle e que só vem com Little Big Planet.

Comovido com essa crise monumental na história dessa nação e, inspirado pelo meu instinto cívico, resolvi falar de One Piece.

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O último grande arco do mangá, Whole Cake Island, acabou faz algumas semanas (pelo menos quando eu tinha começado a escrever esse post). Por fora, apenas uma saga que se estendeu mais do que devia, introduziu 35 personagens e, consequentemente, 35 novas páginas para serem criadas na One Piece Wiki, além de trazer uma luta onde Luffy do Chapéu de Palha teve que apanhar tal qual um Rattata selvagem que te tromba depois que tu derrotou a Elite Four.

Ou seja, um arco pós-timeskip como todos os outros.

Mas será que isso é tudo que essa saga teve para nos mostrar? Me acompanhem.




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Um breve resumo antes de desfiarmos essa saga. Um resumo com spoilers, caso você ainda não tenha chegado nessa saga ou, no pior caso, seja um imbecil que não leu One Piece na vida.

Os Chapéu de Paia haviam se dividido desde a metade de Dressrossa, o arco anterior que provou que não é só o Luffy que consegue se esticar pra caralho. Metade dos piratas (Luffy, Zoro, Usopp, Franky, e Robin) ficaram na ilha do Coliseu, enquanto a outra metade (Sanji, Nami, Chopper e Brook) fugiram com o navio para um elefante zumbi gigante que vive perambulando pelos mares e carrega em suas costas toda uma civilização furry.

Resolvida a treta em Dressrossa, Luffy e seus consagrados foram atrás de seus amigos para se reunirem e decidirem para onde iriam a seguir. Quando chegam nesse elefante, chamado de Zou, descobrem duas coisas: que Sanji foi raptado pela Big Mom e que 90% das fanarts de Sonic e Chester Cheetos ganharam vida nas páginas do mangá. A surpresa acerca do cozinheiro não se limita somente ao seu rapto: é revelado que Sanji, talvez querendo entrar no mundo da luta livre de South Park, tinha um passado ainda mais triste do que aquele que seus amigos conheciam. O rapaz é filho de uma família nazista. Pior do que nazistas, seus irmãos também são "corujas" do Felipe Neto e imitam seu cabelo.

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Hey Sanji, vem assistir esse react de Despacito

Sendo ele membro dessa família poderosa e rebuliçada, Sanji foi raptado para que se case com uma das filhas da Mama, unindo assim duas famílias malignas e ambiciosas. Cabe a Luffy e seus amigos invadirem o território da Grande Mãe, resgatarem Sanji e darem no pé. Um resumo pontual e que corta muita idiotice desnecessária.

Tá Adler, você já inseriu Felipe Neto em uma análise profunda e supostamente séria de One Piece, qual o próximo passo? Como seu humor raso baseado em referências, tal qual Family Guy, vai me entreter mais do que 1 minuto do homem buzina?




Quero falar de um tema recorrente neste arco do mangá, que por acaso é um dos fatores que me faz considerar este o melhor arco pós-timeskip de One Piece. Claro que ganhar esse título é mais fácil do que afundar moleira de bebê, mas não é por isso que iremos desmerecer essa história. Além do ótimo desenvolvimento de personagens, da construção de bons clímax, do ligamento de diversas pontas soltas e de embates que, apesar de muito enrolados, foram essenciais para a trama, esse arco inteiro circulou um mesmo tema várias e várias vezes, sempre explorando um novo lado do mesmo assunto.

E o assunto é família.


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Eu gosto de colocar essas imagens aleatórias por 3 motivos:
1- O Google faz todo o trabalho de apresentar meu blog para resultados bizarros, só por causa de imagens.
2- Ajuda o Zé Zipzop a ler o texto até o fim. Quando tem imagem as pessoas costumam ler mais.
3- O pirata com a fruta do demônio, que se estica e que conheceu todo tipo de criatura poderosa e praticamente divina, aos olhos desse artista, é cristão.

Tudo bem que "família" é um tema bem geral, tanto que One Piece esbarra nele a cada 2 volumes. Ainda mais depois da putaria da família D. Mas nesse arco da Big Mom nós fomos apresentados a diferentes conceitos e relacionamentos de família.

O sinal mais claro disso e que serve de base para as comparações a seguir são os próprios vilões do arco: Os Piratas da Big Mom. Descobrimos nesse arco que, de fato, a Grande Mãe é uma mãe, diferente do Barba Branca que só tinha um bigode na verdade. Ou do Belo. Com filhos de todas as cores e todos os sabores, sua frota consiste basicamente de uma renca de filho de pai diferente, sem distinção de raça.

Família, para Charlotte Linlin, é um grande e praticamente infinito recurso próprio para guerras, conflitos e consolidação de poder. Filhos de várias raças e tipos, cada um com seu propósito para o plano maior que é fazer da gigante a Rainha dos Piratas. Filhos feitos para formar alianças, penetrar outras sociedades, criar vínculos. Tudo com a desculpa de que é o sonho da Big Mom ter um reino livre de preconceitos e divisão de povos, sonho esse que foi criado em cima da ilusão que a Madre Carmel, a pessoa que a salvou na infância, instituiu no passado.

Para Linlin, seus filhos precisam seguir os caminhos que lhes foram decididos desde o nascimento. O guerreiro, a espiã, o casamento político, uns 20 filhos com nome E poder de comida pra reforçar o tema de João e Maria. Fica claro para nós que um filho da Yonkou não tem nenhuma decisão sobre sua própria vida, a não ser decidir qual risada única terá, mas isso é praticamente uma lei da Física em One Piece então não conta tanto.

Uma família que gira em torno de seu Sol, a Big Mom, mas que parece não ter uma boa relação com a mesma. Não vemos nenhum momento, por mínimo que seja, de ternura, afeto ou qualquer outro sentimento ligado à maternidade por parte da pirata gigante, o que enfatiza mais o teor balístico de seus filhos aos seus olhos. Ainda que esses filhos a protejam com suas próprias vidas, seja por afeto ou pela noção militar de saber que a Mamãezona é uma arma de destruição em massa valiosa demais para ser morta. O fato é que seus filhos sabem que não podem simplesmente sair da família, o que os tornam reféns de seu próprio sangue. Talvez seja essa vida de constante vigilância, de estar sempre buscando cumprir os objetivos determinados pela Mama, de estar à mercê de um surto que possa levar a pirata a destruir a cidade e matar sua própria pária que faça com que seus filhos se adaptem à esse modo de vida destrutivo e se tornem cada vez mais cópias da vilã.

Escrevi muito texto, toma uma imagem para os preguiçosos.


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Outra família que é bem destrinchada ao longo do arco são a Germa 66, o grupo super sentai nazista. Um reino nômade que vive de guerras e conquistas. Judge, o patriarca e provavelmente fundador da família, seguiu a mesma ideia de "filhos=armas", e assim criou Reiju, Ichiji, Nichiji, Sanji e Yonji (Rei, Ichi, Ni, San e Yon são, respectivamente, os números 0, 1, 2, 3 e 4 em japonês. Queria escrever isso para me sentir inteligente). Feitos com bioengenharia e papel crepom diluído em água, os filhos são as armas principais do reino. Tirando Reiju e Sanji, os rebentos são máquinas de destruição sem nenhuma emoção e que seguem a lei do mais forte por influência e doutrinação de seu pai.

A diferença aqui é que os poucos traços de humanidade e "bom senso" estão no líder, Judge Vinsmoke. Em seu pior momento no arco, quando é traído pela Big Mom e se encontra prestes a morrer, o cabeludo derrama lágrimas por perceber que todo seu plano, linhagem e império serão apagados e consumidos pela Yonkou. Ao mesmo tempo, seus filhos e maiores criações riem em frente a morte, pois são incapazes de sentir qualquer coisa.



Cena de transformação irada que gastou o orçamento de 3 meses da Toei

Por fim, quero falar das famílias que não são famílias. Elas acabam sendo o contraponto a essas referências negativas de grupos familiares e provam um ponto (que talvez só faça sentido no mangá ou na vida real também? não sei):

Família é o que você cria, e não o que você tem.

O primeiro exemplo é um dos personagens que mais me conquistou nesse arco: Capone Bege, um dos Supernovas que não tinha nenhum desenvolvimento até este momento da história.

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Capone Bege

Bege é um pirata mafioso. E máfia envolve família. Bege recrutou e formou uma gangue de piratas e trata todos como se fossem seus parentes. Querendo mais poder no Novo Mundo, aceitou se casar com a filha (simpática) da Big Mom, assinando com sangue e um bebê muito lindo o seu alistamento nos piratas da Mamona.

Claro, ele fez isso somente para que conseguisse estar bem perto da gigante tirana e, no momento certo, a traísse para conquistar seu império. Mas para isso, Bege precisou tomar esposa e conceber um filho, criando vínculos eternos com duas pessoas que, na teoria, seriam apenas peças em seu plano. Mas Bege segue a conduta de que família é a coisa mais importante do mundo, e por isso se sacrifica de diversas formas para garantir a segurança de Chiffon e Pez, o bebê que tem chupeta de charuto porque bebês mafiosos funcionam assim.

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QUE COISA MAIS FOFA E NOJENTA OLHA ESSA BARBINHA *-*

Eu simplesmente amo essa relação toda, justamente por conta do contraste apresentado através do grande gângster que é Bege, ao mesmo tempo que é um excelente pai e um exemplar marido. Indo mais fundo, Bege é, literalmente, um castelo que quer destruir seus inimigos e proteger ao custo da própria vida os seus familiares.

E por último, outros dois bandos de piratas que, nesse caso, não possuem nenhum tipo de relação sanguínea, mas se tratam de tal forma. Os Mugiwara, é claro, e os Sun Pirates, grupo de piratas tritões do qual Jinbei é líder.

Não vou entrar em detalhes pois essa parte nem chegou no anime, mas bem pro final do arco esses ambos grupos tem destaques bem interessantes. É um cenário onde todas essas famílias estão em perseguição e conseguimos ver os diferentes tipos de relações nutridos por cada um. E da parte desses piratas, temos demonstrações únicas de companheirismo e amor fraternal, vínculos criados não por sangue mas sim por laços afetivos. Sacrificar-se pelo próximo, garantir um futuro para a próxima geração e passar a chama adiante. E acho que essa ação dos Piratas do Sol vem para fechar e dar um ponto final em todo esse tema de família. Aguardem o anime, vai ser bem emocionante.


ENFIM, consegui escrever mais um post. Meu cecê está muito forte. To usando touca de frio com um clima quente só porque meu cabelo está ensebado e sou preguiçoso. Abra-se também aqui nos comentários, manda um recado para a sua família de circunstância, se inscreva no canal do Youtube que não atualizo há 5 anos.

Sei lá bicho. Um beijo.

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