sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Conjecturas sobre um vagão

Olá meus caros. Muitíssimo obrigado por vossas presenças hoje. Estou aqui, em minha poltrona de couro envelhecido, segurando minha taça de Coupé Du Bocet', ao agradável som e calor de uma lareira, apenas esperando sua companhia. Sente-se, fique à vontade. James irá lhe trazer a bebida. Bem, aonde estávamos? Ah sim, o post deste blog. Muito bem, deixa eu enxugar meu monóculo.

Acontece que, em minhas muitas viagens pelo sistema ferroviário metropolitano, eu nunca paro pra pensar que existem pessoas que nunca entraram em um trem do Metrô (já que Metrô é a empresa, não o veículo). Pior ainda: nunca passaram pela experiência de vida que é entrar em um vagão, em um dia comum da semana, às 6:00 da manhã. Que curioso, não?

Muito bem. Concluído isso, pensei em vir aqui dar uma aula sobre Metrô. Não necessariamente uma aula, mas relatos das minhas viagens, e de como eu acho essa experiência algo benéfico para as pessoas. Vamos lá?




Ok. O METRÔ. Para os que não conhecem este lugar, tentarei descrever: um trem prateado, com, eu chuto, uns 6-7 vagões. Cada vagão tem 4 portas, separadas por uns 3 metros. Ali dentro, um conjunto de assentos distribuídos pelas paredes do vagão. A quantidade varia conforme o modelo do trem. No teto, canos (eu não sei um nome melhor) se espalham em altura suficiente para que um adulto médio possa se segurar. Envolvendo os bancos também existem estruturas metálicas dos mesmos canos que servem para os passageiros se segurarem. Ar-condicionado BEM relativo. Corredores largos e alarmes de segurança. Portas automáticas. Mapas da linha ferroviária nas paredes. Uma peça de arte.

Enfim, este é o nosso amigão. Ninguém anota ou conta, mas muito provavelmente nós passamos umas 2-3 horas diárias dentro dessa estrutura. Depende do seu ponto de embarque e de desembarque. Isso é um BELO tempo, suficiente para se acostumar com todos os acontecimentos possíveis dentro desse veículo. Mas nosso foco aqui não é o SIMPLES passeio de metrô, e sim a superlotação que existe de manhã.

Eu quero aqui analisar e discutir o comportamento dentro de um metrô em horários de pico. Afinal, tudo muda quando aquela caralhada de gente entra na estação Brás, não é? Eu, antes de tudo, vou explicar o MEU comportamento rotineiro de manhã:
  • Na hora de escolher o vagão, evito as extremidades do trem e o vagão do meio, que fica bem na frente da escada principal daquela estação. Hoje em dia tenho pego um vagão à frente desse central previamente citado.
  • Na hora de escolher a porta, procuro não pegar nenhuma das duas das pontas. O ideal é entrar naquelas do meio pois as opções de lugar para se alojar se expandem para os dois lados, diferente das pontas onde somente um corredor está disponível.
  • Já ali dentro, procuro (melhor, tento) não ficar na área na frente das portas. O melhor lugar possível, no entanto, é o cantinho das portas, exatamente do lado destas, onde normalmente cabe apenas uma pessoa. Como este local está sempre ocupado, vou para a segunda opção, que são os corredores que dividem as cadeiras da esquerda e da direita.
  • Como uso bolsa, e não mochila, sempre a deixo grudada à minha barriga. Minhas mãos, se não tiverem onde segurar, sempre ficam coladas ao corpo.
  • Se eu não consigo segurar nos apoios, me posiciono com as pernas abertas em um ângulo médio, de forma que a perna direita fique mais pra frente e a esquerda mais para trás, fornecendo uma sustentação não só para os movimentos bruscos para os lados, mas também para as inclinações para frente e para trás.
  • Nunca pego metrô sem estar ouvindo algo, seja um podcast ou música. Pode parecer bobagem mas isso ajuda muito no desestress (BANG, a new word!).
  • Um passatempo bônus é procurar alguém ao seu redor que seja ou bonito ou curioso e ficar o analisando. O que será que essa pessoa faz da vida? Por que ela escolheu esse cabelo hoje? Será que namora? Como será que ela beija? Aquilo é uma pinta ou um feijão preso na pele? Filosofe sobre ela e verá que a viagem flui rápida e relaxada. Bizarro? Talvez, mas é muito mais relaxante do que ficar olhando para a senhora gorda que está na sua frente, ou até para o chão.
  • Quando acontecem os empurrões de costume, principalmente na já citada estação Brás, eu tento deixar todos os meus membros e bolsa colados ao corpo e deixo a multidão se expandir. Costumo fechar os olhos e esperar ansiosamente a estação Sé.
Bem, vamos à análise.

Eu percebo hoje em dia muita pressa e afobação por parte de muitos passageiros. Mas, afinal, do que adianta se apressar para sair do vagão na Sé? A pessoa não sabe que metade do mundo e mais 3000 pessoas vão sair naquela estação? Acho um pouco ridículo esse corre-corre DENTRO do vagão. Afinal, rápido ou devagar, ele ainda vai ter o mesmo destino de todos: a saída. Não só isso, mas por quê correr para pegar metrôs que tem, em suas portas, um porrilhão de pessoas? Não tá vendo que, mesmo que bata o recorde do Usain Bolt em chegar na fila, só vai entrar conforme a fila andar?

Acho que essa pressa "ignorante" é um dos fatores que mais me irrita. Não por quê me atinja fisicamente, mas me mostra uma imagem um pouco idiota de quem pratica. É o mesmo problema de quem faz o PIOR ATO POSSÍVEL NO METRÔ, ou seja, entrar no metrô quando este está fechando as portas, ficando ou preso ali na entrada ou dando de cara com a porta. Isso só atrasa a viagem e te deixa com uma imagem de panaca of the day.

Outra coisa: ESPAÇO. Enquanto que, por um lado, eu ache a coisa mais imbecil do mundo querer agilidade dentro do metrô, por outro lado, eu não vejo quase nenhum problema com a falta e invasão de espaço dentro do vagão. Afinal, todos querem entrar. Todos tem seus compromissos. Todos pagaram para estar ali. Nada mais justo, então, do que os passageiros do metrô abrirem mão de suas individualidades e aceitarem que vão ficar colados uns com os outros. Sabe a senhora que, ali no meio, começa a ser muito apertada e passa mal? Sabe de quem é a culpa? Da vida, meu amigo. Ou você vai pedir para 30 pessoas darem dois passos de distância da mulher para que ela respire? O Metrô (eu coloquei com letra maiúscula por que me refiro ao conjunto dos passageiros, quase um ser vivo), ATUALMENTE, não está ali para se adaptar aos seus problemas, mas sim o contrário. Você tem problema de pressão baixa? Tem enjoos fáceis? Acha que dentro do vagão você tem o direito de ler um jornal de meio metro aberto na cara dos outros? Pois bem, buddy, tu tá no lugar errado. Eu não acho correta, e quero deixar bem claro, a situação atual das linhas que utilizo (Vermelha e Azul), mas também não acho que se possa mudar ela neste momento. Eu, por exemplo, me sentenciei à acordar 5:30 da manhã para chegar aqui no serviço na minha hora de entrada, às 7:00. Não só pelo tempo da distância, mas também para que eu pegue o metrô mais cedo, ou seja, mais vazio. Se me atraso e chego mais tarde, com os metrôs naquele nível que tem gente colada na porta quando o veículo acabou de parar na estação, aceito meu destino e me espremo ali.

Sabe de uma coisa? Quando eu estou na porta, colado, e pessoas querem se espremer nas minhas costas para entrar, eu penso que é um jogo. O meu objetivo, nessa partida, é tentar ficar imóvel, por mais que isso atrapalhe aquela pessoa à entrar. Se o outro jogador, que tá do lado de fora, usa de algum esquema e consegue mesmo entrar, eu aceito a vitória dele e me mexo. Sem ódio. Com respeito. (Claro que eu só faço isso com homens, na maioria. Não faria esse jogo com uma senhora ou uma grávida)

No fim de tudo, o Metrô está ali para nos ensinar, forçadamente, conceitos básicos de humanidade: união das pessoas, contato com o próximo, abraço grupal, compartilhamento de amor. Ele serve como uma ilustração da vida, e vou elucidar ela aqui pra vocês.

Assim como dentro do vagão, a vida está cheia de pessoas desesperadas e, cada uma com seus motivos pessoais, que querem chegar em um ponto. O problema é que TODO MUNDO QUER chegar lá, e, muitas vezes, não sobra espaço para todos conseguirem. Existem os deficientes, as grávidas, os já velhos. É uma sopa de pessoas que simplesmente querem prosseguir na vida e alcançarem seus objetivos. Então, quando acontece esse problema do espaço, muitas começam a odiar essa jornada. Passam a usar de métodos sujos e desrespeitosos para subir na vida usando os outros como escada, os ferrando enquanto avançam. Todos vindos de lugares diferentes, com histórias diferentes, corpos diferentes. E a chave para o sucesso, sem ter que prejudicar ninguém, é a paciência. Paciência de aguentar os apertões e empurrões da vida. Paciência em, caso você perca a estação que devia ter descido, não desistir e começar a jornada de novo. Paciência em não agredir quem está à sua volta, querendo o pedacinho do bolo igualmente. Paciência em não ter pressa de chegar ao seu objetivo. Paciência de entender que não podemos nos apegar à conceitos egoístas de espaço,e aceitar e compartilhar aquele lugarzinho apertado ao seu lado.

Viu? Metrô é uma grande simulação metafórica da vida. Então, aja no Metrô como você quer agir na vida. E, com todo respeito, NÃO COMA A PORRA DE UM FOFURA SABOR CHURRASCO DE BOSTA DO MEU LADO, SEU FILHO DUMA PUTA!

Muito amor pra você em sua viagem. Até mais. Desembarque pelo lado direito do blog :)

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